Religiosidade

Publicado na Folha de São Paulo

Religiosidade protege coração, diz estudo
Por Fernanda Bassette, com colaboração de Gabriela Cupani, da Reportagem Local

Dois estudos internacionais indicam que a religiosidade pode proteger da morte por problemas cardíacos e de doenças como hipertensão.

Por 30 anos, médicos norte-americanos acompanharam a saúde cardiovascular de 6.500 adultos que não apresentavam fatores de risco (obesidade, tabagismo etc.). Constataram menor número de mortes por doenças do coração entre os que seguiam alguma religião.

Outro estudo americano, realizado pela Universidade de Duke com 3.963 pessoas, concluiu que a leitura de textos religiosos, a prática de oração ou a participação em cultos reduziu em 40% o risco de a pessoa desenvolver hipertensão. Com base nesses resultados, a Sociedade de Cardiologia de São Paulo vai discutir pela primeira vez a relação entre espiritualidade e saúde cardiovascular, em um congresso que começa hoje na capital.

"Cada vez mais estudos apontam essa associação benéfica. Os resultados ainda não são definitivos, mas merecem ser discutidos", diz o cardiologista Álvaro Avezum, diretor da divisão de pesquisa do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia de São Paulo. Existem algumas teorias para explicar por que as pessoas religiosas têm menos doença cardiovascular. A principal delas, de acordo com Avezum, é o controle do estresse.

"O estresse aumenta os níveis de cortisol no sangue. Isso eleva a pressão arterial e pode provocar taquicardia -fatores de risco para problemas cardiovasculares. As pessoas espiritualizadas têm maior convivência social e enfrentam os problemas da vida de maneira mais fácil, gerenciam melhor o estresse", diz.

O psicólogo José Roberto Leite, do departamento de Psicobiologia da Unifesp, concorda. "Pessoas que têm uma crença religiosa costumam alimentar expectativas positivas em relação ao futuro."

Resultados controversos

O geriatra Giancarlo Lucchetti, do Departamento de Neurologia da Unifesp, diz que a dobradinha religiosidade e espiritualidade sempre esteve muito próxima da saúde, embora haja conclusões controversas. "Há estudos que mostram benefícios,outros não. Mas a religiosidade é benéfica não apenas para o coração, mas para a saúde como um todo."

Lucchetti fez um levantamento com 110 pacientes idosos que estavam em reabilitação na Santa Casa de São Paulo. Aqueles que eram mais religiosos tiveram uma melhora mais rápida no tratamento e relataram ter mais qualidade de vida, segundo o médico. Ele alerta, porém, para o fato de que a religião pode atrapalhar o paciente, dependendo da abordagem: "Muitas pessoas acham que um problema de saúde acontece porque estão sendo punidas, porque Deus as abandonou. Isso provoca desfechos piores no tratamento e maior índice de depressão".

Religiosidade, sozinha, não faz milagre, como lembra o cardiologista Marcos Knobel, do hospital Albert Einstein: "Quem só se dedica à religião e esquece de outros fatores não estará mais protegida do que alguém que cuida da saúde, mas não é tão religioso".

Desmatamento


Ou seria 'desmundamento'?

Carpe Diem

de Walt Whitman
Aproveita o dia,
Não deixes que termine sem teres
crescido um pouco.
Sem teres sido feliz, sem teres
alimentado teus sonhos.
Não te deixes vencer pelo desalento.
Não permitas que alguém te negue o direito
de expressar-te, que é quase um dever.
Não abandones tua ânsia de fazer de
tua vida algo extraordinário.
Não deixes de crer que as palavras e as
poesias possam mudar o mundo.
Porque passe o que passar, nossa essência
continuará intacta.
Somos seres humanos cheios de paixão.
A vida é deserto e oásis.
Nos derruba, nos lastima, nos ensina, nos
converte em protagonistas de
nossa própria história.
Ainda que o vento sopre contra, a poderosa
obra continua, tu podes
trocar uma estrofe.
Não deixes nunca de sonhar, porque só nos
sonhos pode ser livre o homem.
Não caias no pior dos erros: o silêncio.
A maioria vive num silêncio espantoso.
Não te resignes, e nem fujas.
Valorize a beleza das coisas simples,
se pode fazer poesia bela,
sobre as pequenas coisas.
Não atraiçoes tuas crenças.
Todos necessitamos de aceitação, mas não
podemos remar contra nós mesmos.
Isso transforma a vida em um inferno.
Desfruta o pânico que provoca ter a
vida toda a diante.
Procures vivê-la intensamente
sem mediocridades.
Pensa que em ti está o futuro, e encara a
tarefa com orgulho e sem medo.
Aprendes com quem pode ensinar-te
as experiências daqueles que
nos precederam.
Não permitas que a vida
se passe sem teres vivido...

Touch



Como a música é uma das minhas paixões - e cresci
ouvindo de tudo - vai aqui uma indicação gospel.
Trata-se de uma composição de Brother Simion,
lindíssima por sinal.

Companhia das letras


(Clique sobre a imagem para aumentá-la)
O texto está pequeno, eu sei; vou transpor, porque
vale a pena. Sobre o fundo preto diz:
"Você deixou de ler 47 páginas de 'O evangelho
segundo Jesus Cristo', de José Saramago"
e, embaixo, no marcador:
"Sim, você tem tempo para ler mais"

Berlinda

Do livro "O guia dos curiosos - Português", de Marcelo Duarte

Foi na cidade de Berlim, Alemanha, no século XVII, que apareceram as primeiras carruagens com vidros laterais, que ganharam o nome de berlines. Os nobres cirvulavam com elas para serem vistos pelo povo. Daí a expressão 'estar na berlinda', que quer dizer ser o alvo das atenções por algum tempo.

Blowing in the wind



Uma das composições mais inspiradas de todos
os tempos. Para muita gente que não sabe o que ela quer
dizer aqui vai uma versão com legendas em português.

Informação


Consumir diariamente

Diálogo

Poucas aptidões humanas são tão preciosas para a bem-aventurança da espécie como a arte de dialogar. Se a vida é mesmo uma escola em que todos somos aprendizes, o diálogo é um grande semeador da concórdia e, inadvertidamente, um poderoso desagregador.
Quando a afinidade entre as pessoas é grande, a troca de olhares dialoga sem palavras. Há diálogo no silêncio, nos gestos, nas atitudes, nas ruas, na natureza, pois o universo fala conosco. Deus fala conosco nas nossas orações, na nossa consciência, nas nossas virtudes. Nosso corpo fala conosco o tempo todo, nas emoções, nos sentimentos, nas dores, quando nos entregamos aos vícios, aos excessos, à desvirtude ou aos pecados capitais. A vida fala conosco quando insistimos no erro, quando perdemos o controle, quando não avaliamos o passado, não vivemos o presente ou não planejamos o futuro.
Como o ser humano é interativo, a falta de diálogo nos isola num mundo cinza e vazio. Quando deixamos de dizer o que sentimos e pensamos, alguma tristeza se processa no nosso interior como se não estivéssemos compartilhando da sorte do mundo. Quem evita o diálogo perde a chance de conhecer novas histórias, novos mundos; perde a chance de colorir o ambiente ao seu redor. A sensação de bem-estar que advém da interação com as pessoas, a solidariedade e a amizade são poderosos antídotos contra as contrariedades.
As manifestações de alegria, o sorriso e o entusiasmo, não são, pois, o nosso diálogo com o próximo, a nossa simpatia, as boas-vindas da nossa alma? As carrancas, pois, não são muros que erguemos à aproximação alheia, as portas que fechamos à presença de alguém?
O diálogo, mais do que a troca equilibrada de atenção e conhecimento, é a essência que interliga a humanidade, que perdura as tradições, que expressa o ensinamento. Ao diálogo se doa o mesmo carinho com que damos a passagem, que estendemos a mão ou que cedemos o nosso lugar. Ao diálogo cedemos o que temos de mais precioso: o dom de colocar o próximo em primeiro lugar.

Cecília

Não sei onde exatamente de
onde - embora nessas horas isso é o que
menos importa -, mas essa mocinha está
desaparecida desde 26 de fevereiro de 2009.
Informações: 21-78269408

Mozart


Licor de chocolate
avelã
aguardente de cereja
creme à base de manteiga de cacau
puro deleite

Hoje também é o Dia do Agradecimento


Vale um pequeno gesto de agrado
a quem está perto ou tão distante
um manifesto ou silente obrigado:
a gratidão, por um instante.

Vick Vaporub

Pai

"Pra ver o mundo de cima, da memória não me sai; torre alguma se aproxima do cangote do meu pai. " (Moacir Sacramento)

A dama das camélias


Mauro Bolognini foi um grande nome do cinema italiano - um dos diretores preferidos de Liv Ulman, além de Ingmar Bergman - embora não tenha alcançado tanto reconhecimento. Além do conhecido “O belo Antônio”, ele filmou, em 1980, “A dama das camélias”, baseado no clássico da literatura francesa escrita por Alexandre Dumas, filho do também Alexandre Dumas. Enquanto o pai escrevia “Os três mosqueteiros”, o filho se apaixonava por Alphonsine Plessis, uma moça pobre que fugira do interior, mais ingênua que assustada, para se tornar a mulher mais disputada pela burguesia parisiense, de beleza delicada e sugestiva. Os dois são retratados na história da jovem que inspirou Dumas filho a escrever seu romance de maior expressão, levado ao teatro e aclamado pelo público. Vale a pena viajar ao século XIX para conhecer esta passagem na vida dos Dumas, os conselhos do pai, a ascensão do filho, os vaivéns na nobreza, as apresentações teatrais, os bastidores sociais, o tom promíscuo nos diálogos, os hábitos imorais que pontuavam em Paris, onde aliás se encontrava Frans Liszt, também concorrente aos dotes de Alphonsine. Assistir a esse filme de época vale não só como uma alternativa aos tiroteios, às perseguições de carros e aos enredos mirabolantes que o cinema moderno tem produzido, mas também para admirar a beleza do cenário, a suntuosidade dos figurinos e a mestria da trilha sonora, composta por ninguém menos que Enio Morricone, uma lenda do cinema mundial. Para quem não sabe, a história vivida por Dumas filho e por ele transformada em “A dama das camélias” teve um grande admirador, Giuseppe Verdi, que compôs “La traviata” (A transviada) baseado no romance, no ano seguinte (1853) à sua primeira apresentação, no Teatro de Vaudeville, em Paris. E, para quem gosta das lições de moral, o enredo é um prato cheio.

A persistêncida da memória

O surrealismo é um dos movimentos mais
interessantes da história da arte, do qual "A
persistência da memória", de Salvador Dali, é
uma das minhas obras preferidas.

Prêmio Off Flip de Literatura

O Prêmio Off Flip de Literatura foi criado em 2006 como parte da programação literária da Off Flip e contempla dois gêneros literários: conto e poesia. Poderão participar autores maiores de 18 anos de qualquer nacionalidade residentes no Brasil, bem como autores de países lusófonos (Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe, Timor Leste) e brasileiros residentes no exterior. As inscrições serão realizadas até o dia 31 de maio de 2010. Maiores detalhes e inscrição: http://www.premio-offflip.net/

Larápio


De "O Guia dos Curiosos - Língua Portuguesa", de Marcelo Duarte

Lucius Antonius Rufus Appius foi um pretor (juiz) romano muito corrupto, famoso por vender sentenças. Como assinava L. A. R. Appius, a palavra larapius acabou sendo criada para designar ladrões, gatunos e pessoas desonestas.

Nível III

Ontem completei o terceiro dos 4 níveis do Reiki - Sistema Usui e Tibetano. Optei pelo longo espaço de tempo entre os três níveis, de modo que pudesse vivenciá-los intensamente e me sinto privilegiado por compreender a sua história, os seus atributos, os seus benefícios. O reiki é uma força de amor universal através da qual qualquer pessoa - independente de sexo, classe social, raça, idade ou fé, religião, crença ou dogma - pode se beneficiar sem qualquer efeito colateral, sem nenhuma contraindicação e sem limites. Aliás, quanto mais reiki se recebe, mais maravilhas ele pode fazer sobre a saúde, sobre um ambiente específico, sobre animais de estimação, sobre determinadas situações e sobre a vida cotidiana. Os reikianos são como torneiras, são condutos através dos quais transita - como o calor do corpo e como a eletricidade estática - uma manifesta energia divina. O último dos 4 níveis transforma o graduando num mestre reiki, a quem se recai não só a responsabilidade de iniciar novos reikianos, mas de ser um exemplo de caráter e retidão.

Advertências


Quanto mais os dias passam, mais eu me encanto com as
mensagens que uma simples folhinha deixa para mim.
Simples como achar que as mensagens são feitas sob medida
ou encontrar grandeza nas pequenas coisas ao nosso redor.

Os pequenos gestos

Os pequenos gestos são como os pingos: parecem tão insignificantes à primeira vista, mas se tornam poderosos quando são multiplicados. Podem manter a modéstia na pequenez e na grandeza, ainda que se tornem impetuosos sob más influências. São singelos e transparentes, mas se pintam de cores ou se turvam de negro conforme as intenções. Pingos de mentira ou sensatez podem encher os copos de tolos ou sábios na mesma proporção.
Os pequenos gestos são como os mananciais: brotam da inspiração divina, surgem do instante de beleza como as borboletas pousadas nos ramos e os raios de sol perpassado às folhagens, que equivalem por sua vez à doce troca de olhares, ao telefonema sem motivo, à simples lembrança, à breve visita, ao agrado sem pretensão.
Os pequenos gestos são como os rios: carregam vida por onde passam, sobrevivem à aridez e à frieza e enfrentam quaisquer obstáculos pois tem um destino a cumprir, mesmo contra tantas represas. Navegam de alto a baixo trilhando diferenças e nem por isso perdem tempo com disputas insanas.
Os pequenos gestos são como os chuviscos: refrescam com doçura, são serenos e não caem, repousam. São delicados tesouros que se renovam em ciclos e em diferentes estados da matéria, cada qual em seu tempo. Dançam sua graça na melodia da vida e não se retiram sem antes deixar marcas coloridas no horizonte das pessoas.
Os pequenos gestos são como os mares: purificam o corpo dilacerado e cheio de dores; refrigeram a alma despedaçada e cheia de angústia. Estão por toda parte embora nem todos os contemplem; talvez os apaixonados e os espirituosos, mais que os nervosos e os sem-tempo. Em essência são verdadeiras maravilhas e só se perde em seus domínios quem anda sem bússola.
Os pequenos gestos são como as ondas. São impulsos de beleza que se levantam mais forte e mais alto e que sobretudo espalham os desígnios divinos, os pequenos pingos de virtude que irrompem da fonte da vida à terra firme e que, de tão importantes, nunca podem acabar.

A internet

"Os computadores e a internet são controversos: aproximam quem está distante e afastam os que estão próximos." (Antonia Salla Sartoran)

Samsung

Contos para ninar gente grande


Com a postagem de "A formiga" eu disponibilizo aqui no blog todos os textos que fazem parte de "Contos para ninar gente grande", lançado pelo Grupo Editorial Scortecci em setembro de 2.006, em São Paulo. O livro é resultado do IV Prêmio Literário Livraria Asabeça 2.005 e traz uma espécie de novidade quando pretende homenagear alguns dos grandes escritores da história da literatura apresentando com essa finalidade todos os contos com o mesmo número de palavras (1.000), todos encabeçados por títulos consagrados desses autores. Quem quiser receber o livro em formato digital, pode solicitá-lo pelo email peduardos@hotmail.com ou baixá-lo clicando aqui.

A formiga

Seria natural se para ele surgisse um indício. Qualquer coisa. Um sinal de reação, uma boa notícia. Era um dia assombroso, cinza e frio, embora o sol escaldasse lá fora. Uma tarde negra, que trataria de esquecer. Trataria, se não fosse aquela formiga. Uma criaturinha toda graciosa, mirradinha e pressurosa, procurando atabalhoada o seu caminho como se estivesse num imenso labirinto invisível.
Seria natural que o rapaz lhe desse um peteleco, para que lhe atirasse a vida. Só que estava meio apático, num estado que levantar o braço custava esforço. E a formiguinha lá, à toda brida, subindo às suas vistas em despreocupada escalada. Em vez de arremessá-la ou se meter a esmagar o seu corpúsculo, ele sentiu ternura. Aquela coisinha frágil, minúscula, perdida que estava, morrer daquele jeito. Mirou o seu tamanho, sua delicadeza e sentiu o desconforto da covardia; imprensar uma criaturinha inofensiva de Deus.
Um afeto brando veio ter com os seus botões e uma simpatia benigna pelo bichinho fez alterar o estado do seu espírito. Daquele vazio triste e indevido brotou uma suave complacência e ele se afeiçoou à formiga como paixão à primeira vista.
Ainda acompanhou sua trajetória desenfreada, reta, curva, ondeante, até que ela parasse, de súbito, de frente para ele, mexendo as antenas com ar de arreganho. O rapaz sorriu de um lado a gratidão pelo inseto. Que o fizera perceber a miudeza, a debilidade, a desorientação e a insolência. Mesmo desvantajosa, escalara o braço do rapaz com polida desenvoltura. Depois se estancou como se fosse descoberta e estava a observá-lo com suspeição. Na pior das hipóteses sairia em desabalada pirambeira e se esconderia na almofada.
Em vez disso o rapaz esticou o dedo até ela e o pousou ao seu lado que nem degrau de espaçonave. A formiga andou até ele e escalou unha acima até se levar à palma. Então o moço se levantou, andando até a cozinha de mão aberta, exibindo o inseto feito bandeja. Aterrissou-a na pia, onde a formiga desceu vagarosa. Caminhou ali ao lado como se esperasse por algo, meio hesitante. O rapaz empunhou uma colher e a acomodou, lotada de mel, a dois passos de formiga a seu lado. Ela divisou aquele castelo de açúcar suculento e se decidiu pelas beiradas, com comedimento. Foi bebericando por cima do utensílio sem nenhuma pressa e sem se dar conta da boa vontade do humano. Nutriu-se a contento até se afastar para perto dali em seguida, quando se deu por satisfeita.
Sim, ele esperou. Esteve todo o tempo por ali, de olho na formiga, admirado que estava, quase patético, ligado à sua coragem. Mesmo diante de novos insetos, atiçados pelo perfume da colherada, o rapaz cuidou da sua protegida, espantando-os com um assopro direto e poderoso.
Depois fez escadinha para ela de novo e os dois foram juntos ao sol das cinco, que não queimava nem fazia mal para a pele. Baixou a mão até a grama para a formiga descer e ela pousou ao seu lado, aonde se manteve imóvel sob os olhares do moço. E estava revitalizado, doído mas surpreso; estava encantado por fatos inexplicáveis, como se a encantada fosse a formiga, dócil daquela maneira.
Ficaram até bem mais tarde, ao crepúsculo do dia. Avaliando por fim as necessidades do bichinho, encheu uma pequena caixa com um punhado de terra, um dedal com água e outro com mel, picou umas folhas bem verdes e as salpicou por cima da terra como se fosse neve. Levou a formiguinha para dentro da caixeta onde a pousou, imperiosa que estava, de antena empinada.
Depois transportou o improviso para dentro da casa, assentando-o sempre perto de si. A todo momento esteve com ela. Descongelou e jantou na sua presença, lançando para ela uns restos de salgado e lascas de sobremesa, para seu júbilo. Sentou-se a seu lado na poltrona e se esticou à frente do telejornal onde, cansado, o rapaz dormiu.
Vai! Corre! Agora! Vai! Agora! Eram as mensagens que chegavam pelas suas antenas de parentes e amigos, que acompanhavam aflitos o seu apuro. Espalhados pelos arredores, eles viam naquele instante o ideal para a sua fuga.
Receou então por todos eles. E se o gigante fosse vingador, capaz de folear o formigueiro, envenenando todas as gerações? E ela, justo ela, que permanecera tanto tempo sob as vistas do humano, posando de boa formiga, tomando da sua água e do seu mel, comendo das suas folhas; agora que poderia largar terra para as favas estava temerosa da reação do predador; já ouvira casos terríveis de mirmecocídio.
Então, corajosa que era, a formiga se escapuliu. Enfiou-se no meio da sua turma e, juntas, esconderam-se sem pestanejar. Felizes estavam com o regresso da desaparecida, mas trataram logo de planejar o que viria pela frente, de olho no humano.
Em seguida ele desperta, atordoado. A televisão chuvisca ligada e ele, trôpego, vai sonambulando para o quarto, onde só consegue arrancar as roupas e abrir as janelas, antes de desmaiar de cansaço.
As formigas ficaram em polvorosa. Passaram a noite em claro e sob a ansiedade de milhões de possibilidades. As mais sábias aconselhavam o salve-se quem puder: a qualquer hora o rapaz poderia acordar sobressaltado e se insurgir contra a ingratidão do inseto desertor. Poderia ter um achaque de loucura e partir alucinado para todos os formigueiros que encontrasse pela frente, dizimando as milhões de conterrâneas que viviam naquelas cercanias.
O dia amanhece e as formigas estão todas preparadas. Entre as intelectuais e as operárias houve um consenso e cada qual do seu cantinho observa os passos do humano. Ouvem os seu ruídos e trocam mensagens entre si, espalhadas pela casa.
De lá do quarto, ele bate umas gavetas, fecha as portas dos armários, entra e sai do banheiro, todo arrumado. É aí que vê o sumiço da formiga. Então ele joga no lixo o improviso que construiu com papelão, dá uma última arrumada em tudo, leva as chaves para a portaria do hotel e vai-se embora para nunca mais ser visto.

Ducati

As diferenças

Enfiado na bolha de sabão decide viver. Sua escolha custa caro à perfeita e translúcida rodela que estoura à sua vontade de sair. Cai-se junto às gotas e estas, juntas, tornam-se ao balde o que é para ele um Atlântico com nacos de espuma. Bóia sobre um plástico esquecido e não sucumbe à estratégia da água com o furo no cantinho, por onde sai rodopiando, caindo engasgado num monte de lama. Ali tem seis ou sete iguais a ele e se ajuntam para não afogar o mais pesado, que afundava distante dali dez arfadas suas. Mal tem forças para puxar o rapaz e mais atrapalha do que ajuda. É xingado a brados ferros, mas não responde por que a zonzeira ainda persiste. Ao silêncio se acrescenta ousadia, atrevimento que os outros lhe atribuem e que muito gostaria de ter. Cospe barro engasgado, rola azul para o lado sem nada entender do que é acusado. Vê o gordo salvo e se alivia, mas se voltam contra a sua petulância. Dois ou três ainda o defendem e ele entende que está em apuros. Prefere fugir para o balde, onde do furo a água ainda sai lenta. Retoma o plástico e assopra dois bafos, nada contra a maré e volta ao torvelinho de sabão que roda breve. Vai alçado pelo ar comprimido até a superfície, onde encontra as gotas de sabão que há pouco tivera estourado. É cercado de imediato e não vê saída senão negociar. Advém-lhe mea culpa por traição, interferir na bolha que o levava monótona e placidamente. Diz-lhes como precisa de vida, sair da redoma, pisar terra firme, conhecer outros mundos; mas ouve resignado que as gotas todas, finas, esforçadas, uniam-se, exatas, herméticas, para flutuá-lo adiante, para leva-lo distante para ares melhores dali. Circunda-as do centro da roda preso ao plástico inflado, atento ao julgamento de cada uma, maiores, menores, ensaboadas, azuis, amarelas, opacas. Lá embaixo o esperam com raiva e barro para sepultar-lhe inocência a golpes de ignorância. Ali em cima ainda tinha o diálogo para ponderar as diferenças e resolve condescender ao parlamento das gotas se desfazendo das pesadas vestimentas que carregava consigo, pedindo carona para casa. Compartido, estoura o plástico decidido e na explosão, entre as mesmas gostas e o mesmo sabão, vê-se envolvido em nova bolha, que parte do balde para os ares em poucos instantes; mas dos ares para casa não sabe dizer sobre o caminho, nem em quanto tempo chegará.

As tentações de Santo Antão

Trata-se de uma das minhas imagens preferidas, pintada pelo holandês Hieronymous Bosch, por volta de 1.500. Santo Antão teria sido um eremita que, doando seus pertences aos pobres, teria passado vinte anos no deserto sob tortura demoníaca, ao que teria resistido bravamente, transformando-se assim num ícone de renúncia à vida mundana.

Nonna mia

Domingo a dona Rita completou 93 Páscoas. Ao contrário de milhões de velhinhos que infelizmente pouco falam, pouco se movimentam e pouco se lembram da vida, a nona passou o dia conosco. Ouviu música brasileira, comeu massa italiana, tomou vinho português e me deu o sorriso mais lindo do mundo.
Minha avó Rita foi decisiva para que eu me tornasse um contador de histórias. Muito por que sempre teve disposição para me ouvir; muito por que, com a sua memória prodigiosa, até hoje tem seus causos para contar.
Meu bisavô, Cármino, veio se estabelecer na roça do interior de São Paulo, lutou na guerra e perdeu a esposa por um erro médico. Assim, vovó tornou-se mãe, aos 9 anos, de seus 6 irmãos menores, cuidou de mais 7 sobrinhos que perderam o pai, tempos depois. Casou-se, cuidou dos 5 filhos e ainda é tutora do meu primo mais novo.
Há pouco tempo mudava o tanquinho de lugar e às vezes eu a pego varrendo a casa ou lavando uma louça, mesmo que um glaucoma tenha levado um dos seus olhos. Com o outro ela ganha de mim num jogo de baralho chamado Bisca, que jogamos juntos há quase 30 anos. Com a graça de Deus, caminhamos à padaria, lemos os jornais, assistimos aos bichinhos no Animal Planet, jogamos cartas e tomamos café da tarde.
Frequentar sua sabedoria é um privilégio, estar ao seu lado é uma bênção. Com ela aprendi a ser simplório; a dar o braço, a puxar a cadeira e a abrir a porta para as damas; a dizer alô quando chego e até logo quando saio; a acompanhar até o portão. Aprendi a servi-la primeiro e me servir por último, por que ela merece a minha paciência eterna e o meu gesto custa tão pouco. Aprendi com os seus problemas a deixar os meus para lá e sobretudo aprendi a respeitar todas as pessoas mais velhas não só pela fragilidade, mas pelo mundo de coisas que elas trazem dentro delas, pela doçura que só vê quem as compreende, pela atenção que retribuem à nossa, pelo respeito memorável. Um respeito que elas trazem de uma época em que o próprio respeito ainda era importante.

Honda

Ipad


Por ocasião da chegada do que poderão ser os livros do futuro:
a Folha de São Paulo publicou uma reportagem
sobre o tablet da Apple, lançado nos Estados Unidos no começo
de abril. Aqui vai um apanhadinho.

Política


Esse quadrinho do Angeli publicado hoje
na Folha de São Paulo ilustra perfeitamente
a minha concepção de politica

Domínio Público


O portal Domínio Público (www.dominiopublico.gov.br) é uma ótima pedida para quem gosta de livros digitais, ou ebooks, como são chamados. Todas as obras disponíveis para download já se tornaram domínio público ou tem a licença dos detentores dos direitos autorais. O site disponibiliza mais de 156 mil arquivos entre textos - a maior parte em formato pdf -, imagens, sons e vídeos. Entre a grande maioria (quase 142 mil) dos livros estão as obras integrais de Machado de Assis e Fernando Pessoa. Só por este motivo já vale uma recomendação.

Exercícios


É hora de malhar

Meditação

"A verdade precisa de olhos medidativos. Se você não tiver olhos meditaticos, então toda a vida resume-se a fatos mortos, sem qualquer relação entre si, acidentais, sem sentido, embaralhados. É apenas um fenômeno casual. Se você vê a verdade, tudo entra nos eixos. Tudo se encaixa em harmonia, tudo começa a ter significância. Lembre-se sempre de que a significância é a sombra da verdade. E aqueles que vivem apenas nos fatos levam uma vida totalmente sem sentido." (Osho)

Novos tempos


Se bobear já existe...

Aladim

Ninguém acerta os números premiados da loteria federal. São singelas dezenas jogadas por uma multidão de postulantes, todos esperançosos, amontoados em filas enormes atrás de uma reforma na casa, um carro novo, um sobrado na praia, uma viagem pelo planeta ou o que as suas vaidades lhes sugerissem.
Terão de tentar na próxima vez o acúmulo do sorteio: uma soma deveras significativa. Os gananciosos investirão pesado e os modestos seguirão com seus simples volantes. O enriquecimento é o assunto corrente. Milhões de apostadores discutem por todo o país o destino da verba: os ricos vão querer expandir seus negócios, os jovens vão querer conquistar o mundo; as mulheres, ficar belas e desejáveis; as crianças, construir fábricas de chocolate; os preguiçosos, parar de trabalhar e os pobres não serão mais os mesmos.
Aladim se põe a pensar, envolvido na questão. Um prêmio destes modifica a vida de alguém para sempre. O vencedor será mais benquisto, a ganhadora terá o dobro de pretendentes e a segurança dos dois estará à mercê de maiores perigos. Quem ganhar terá um futuro completamente diferente e disso ele não duvida: ganhar na loteria é como achar a lâmpada maravilhosa. O felizardo vai ter fama, fortuna e poder. Mais do que isso: vai viver entre sorrisos, tapinhas nas costas, tapete vermelho, tratamento especial; vai ser elogiado, admirado e querido. Logo vai querer, sem poder, o que o dinheiro não pode comprar. Se incorrer no pecado do perdularismo vai conhecer dois rostos na mesma moeda: o da pessoas verdadeiras e o dos falsos profetas, que lhe virão sob a aparência de cordeiros mas serão lobos vorazes.
Aladim se vê alçado à condição de benfeitor geral da nação. Poderia multiplicar em centenas os três pedidos ao que o seu portador teria direito: a plástica para a moça linda que se acha feia, mansões e fazendas para reunir as famílias e os amigos, carros para os jovens e jatos e helicópteros para buscar os distantes. No fim, todos continuarão os mesmos.
Do seu lugar, Aladim vê a fila andar. Vê gente com jeito de doido e pensa o dinheiro nas mãos erradas. Um médico passa por ele e vê um hospital com mais empregos e mais saúde para o bairro. Vê um bêbado e pensa no desperdício. Imagina diferentes tipos de pessoas, o que fariam de fortuna na mão. Lembra-se dos simples cientistas, descobridores, batalhadores, que talvez nem apostassem, enfiados nas suas labutas. Lembra-se deles saindo do nada, saindo do pouco, para entrarem na história. Pensa se seus destinos seriam os mesmos se eles se tornassem milionários.
Munidos da lâmpada e sob o direito dos pedidos, Aladim veria um mar de homens e mulheres investindo no concreto e queimando seus milhares em beleza e ostentação. Veria gente pedindo instrução sem pedir os livros, pedindo fortuna sem pedir trabalho e pedindo conforto sem pedir disposição. Veria gente doída querendo respostas sem compreender o que sentem e sem meditar em seus propósitos. Veria gente atalhando a vereda da sua existência por puro comodismo, sem buscarem os seus porquês.
Calmo, Aladim vê passar um desfile de carros e gente de todos os tipos. Parecem não se importar com a sua presença, aquela gente pouco cortês, que passa ao seu lado sem nem um sorriso. Um senhor lhe pede uma informação, olhando-o duas vezes, com alguma impressão. Um nenezinho fixa o olhar na sua direção, de dentro do carrinho, admirando as suas feições. Aladim acha graça e lhe faz uma careta. Depois vai com suas passadas de volta para a sua prisão, onde é mantido em regime semi-aberto. Por seu crime fora isolado em cárcere privado e aguardava em julgamento o destino do seu futuro. Este dependia de serviços prestados à comunidade. Então, em liberdade, saía pelas ruas à procura de benfeitorias.
No cárcere, Aladim está triste. Solitário, sem perspectivas. Andou pelo povo outra vez, sem encontrar alma pura que desse alento à sua história. O dinheiro era tema reinante; projetos, planos, preconceitos. O prêmio acumulado, que todos queriam ganhar. Etapas, que todos queriam pular. Comprar em dinheiro o aprendizado que teriam que passar. E o intangível, o impalpável, ficava de esconso em beatos, homens santos e foras-de-série. Sua procura restringia-se apenas entre o populacho, feito garimpo de agulha em palheiro. E era um martírio, andar por entre o medíocre e o fútil, a ganância e o banal. Com seus dotes de gênio não pescava uma curiosidade, um interesse ou uma qualidade que não tivesse ligação monetária.
De lá de dentro, encarcerado, Aladim pensava na sua salvação. Aonde encontraria a alma cheia de virtudes da qual precisava para se ver livre de sua pena? O que pediria da lâmpada? Amor? Não, certamente seria uma pessoa amável. Força? Também não, por que os céus o protegeriam. Fé? Tampouco, pois o amor já acredita em tudo. Dinheiro? Não, nada material. Uma pessoa virtuosa optaria pelo enriquecimento interno e não pelo mundano, mas não o pediria por que o aprendizado não se tem de uma só vez.
No dia seguinte, sorteio da loteria federal, Aladim descobre o ganhador do prêmio acumulado. Um rapaz de classe média que torraria sua fortuna vida afora, desvirtuando-se das pretensões dos senhores do seu destino. Da modéstia se torna prepotente e arrogante, abandonando seu dinheiro como se fosse nada. No trem da sua cidade fora descoberto uma mala apinhada de cédulas graúdas, uma boa soma que as más línguas diziam ser do novo milionário. Alheio, o jovem maquinista, descobridor da pequena fortuna em um de seus vagões, devolveu o dinheiro intacto. E assim, Aladim, o gênio aprisionado na lâmpada pelos Deuses da Justiça pelo crime do materialismo, encontra no maquinista a virtude que precisava. Num belo dia o jovem condutor dos vagões encontra também uma lâmpada mágica e faz três pedidos: serenidade, para que ele aceitasse as coisas que ele não podia modificar; coragem para modificar as que ele podia e sabedoria, para que ele distinguisse uma das outras. Depois do pedido, Aladim viu-se livre para sempre.

Preocupações



Todo mundo ao mesmo tempo agora

Feliz Páscoa!

Dois discípulos caminham lenta e melancolicamente de Jerusalém à Emaús, distantes 60 estádios – ou pouco mais de 12 km –, tomados pelos acontecimentos sucedidos dali a três dias, sobre o que vão discutindo.
Pelo percurso junta-se aos dois um forasteiro, que lhes pergunta sobre a tristeza que evidenciavam em seus semblantes e sobre os assuntos que tratavam enquanto caminhavam. Um deles, chamado Cléopas, pergunta-lhe se porventura é o único a ter estado em Jerusalém a desconhecer o tão repercutente episódio acerca de Jesus de Nazaré, o profeta poderoso em obras e palavras, a quem se atribuía a restauração de Israel, que fora condenado pelas autoridades e sumos sacerdotes, que fora morto e posto em sepulcro, de onde então o seu corpo sumira, sob os relatos de algumas mulheres, a quem anjos teriam dito que ele vivia.
Os dois discípulos, inteiramente absorvidos em suas próprias discussões, não o reconheceram o forasteiro que se lhes apresentava: tratava-se do próprio Jesus.
Nesta quaresma, em que prosperam os retiros eclesiais, os exercícios espirituais de Santo Inácio de Loyola, a Pessach judaica, a reflexão sobre a morte e o renascimento, 2 bilhões de fiéis celebram a apoteose do Cristianismo, a religião com o maior número de seguidores espalhados pelo mundo.
Amanhã se celebra a memória de Jesus, que dedicou vida e morte pela remissão dos pecados, que legou tantas lições à humanidade, a simplicidade, a gratidão, a fé, a doação gratuita, a firmeza de propósito, o respeito, a tolerância, a força e, sobretudo, o amor incondicional. Amanhã é dia de crucificar a nossa arrogância, a nossa impaciência, o nosso orgulho, o nosso pessimismo, as nossas exigências. Amanhã é dia de sepultar as distâncias que nos separam das pessoas, as nossas pequenezas, as nossas complicações. Amanhã é dia de renovar a paz de espírito, de lavar a nossa alma, de lavar dos nossos olhos tanta contrariedade. Assim, ao contrário dos discípulos de Emaús, enxergaremos melhor que Jesus está bem à nossa frente.