O convite e a pergunta

Já há algum tempo tenho observado o algo mais que existe entre as pessoas muito queridas ou entre aqueles em que vigoram enormes afinidades. Como há muito mais mistérios entre o Céu e a Terra – dizia Shakespeare – do que pressupõe nossa vã filosofia, vou me atrever a palavrear, apenas a olhos nus, sobre duas belas fragrâncias que recendem das relações humanas: as perguntas e os convites.
Poucas coisas no mundo são mais encantadoras do que a afinidade. Os desconhecidos se encontram nos gestos, nos olhares, nos símbolos, nas simples palavras em comum. Os conhecidos se frequentam, estão sempre juntos, mesmo quando não estão. Perto ou longe, são as perguntas que os mantém entrelaçados: Como você está? O que você tem feito? Quando vamos nos encontrar? Não me admira que os convites sejam também perguntas.
Sem os convites não há encontros; sem encontros não há perguntas; e sem perguntas prevalecem o silêncio e o vazio.
As perguntas são mágicas: abrem portas, janelas e corações. Aproximam, afastam; intimidam, mas enternecem; confundem, mas alumiam. Não à toa a humanidade tenha se desenvolvido ao redor das perguntas. As perguntas são dádivas, são cores; e às vezes são cinzas. E são tão mais constantes, tenho reparado, quanto maior é o interesse. Transbordam entre os apaixonados de primeira vista e os convites – sobretudo os aceitos –, são grandes sinais de que algo está dando certo. Ao contrário, nada mais triste que o casal escondido sob o som ambiente, em que a letra das músicas fala mais do que eles.
As perguntas e os convites são como a água e o vento: além de estarem por toda parte, mantém a vida acontecendo. Estão sobre as mesas, estão nas crianças, nos curiosos, nas caminhadas, nas viagens, nas igrejas. Parece que não, mas perguntas inocentes desvendam grandes mistérios. Fico surpreso ao constatar, às vezes, como tão singelas perguntas podem render tantas horas de conversa. É preciso, porém, estar sempre por perto. E depois; oras, uma simples pergunta não faz mal a ninguém!

Os filmes de Natal

Poucas coisas na vida são tão encantadoras como o espírito natalino. Não só pela sua beleza, os seus enfeites, as suas luzinhas, a expectativa das férias, das festas e de um ano melhor. Não só pelo calor – do verão ou o humano –, o movimento nas ruas e o desvelo com o próximo, mas o sorriso no olhar do adverso e os problemas que se estancam quando os sinos anunciam uma nova esperança.
É o momento de trégua nas trincheiras, que “Feliz Natal” (Joyeux Noël, 2.005) consegue mostrar. É o momento em que soldados inimigos se esquecem dos horrores da guerra para celebrarem a paz. Um horror que persiste entre aqueles que insistem em dizer que o espírito natalino é passageiro.
É o momento de revermos as nossas ações como reviu o Ebenezer Scrooge de Charles Dickens em “Um conto de Natal” (A Christmas Carol, foto, publicado às pressas em dezembro de 1.843 para saldar dívidas), levado às telas do cinema tantas vezes por sua magnífica mensagem. Uma das versões é “Os fantasmas contra-atacam” (Scrooged, de 1.988), em que o personagem de Bill Murray se vê às voltas de ‘espíritos’ do seu passado, do seu presente e do seu futuro que o remetem a questionamentos e reflexões por seu jeito avarento de ser.
É o momento de contemplar não só os nossos avanços, mas as situações adversas, as relações difíceis, a doença, a solidão. “O anjo de vidro” (Noel, 2.004) mostra os contrapontos do Natal ou, antes, como superá-los, enlevados pelos encantos do seu espírito. E que seja, como disse o poeta, eterno enquanto dure.

Fluxo da vida

"O ser humano apenas recebe na medida daquilo que dá. Se se suspende a dádiva, o fluxo interrompe-se e nada mais entra de volta." (Thorwald Dethlefsen e Rüdiger Dahlke em "A doença como caminho")

Cheio de nove horas

Extraído de
"O guia dos curiosos - Português",
de Marcelo Duarte


Em algumas localidades do Brasil, especialmente por volta do século XIX, quem fosse encontrado na rua após às 9 horas da noite era revistado, pois esse momento era tido como "hora de dormir". Os eventos sociais e as visitas também não deveriam ultrapassar esse horário, mandava a boa educação. Por isso, as pessoas que se cercavam de muitas regras passaram a ser denominadas "cheia das nove horas".

Parabéns, Indaiatuba!




Aqui vai a minha homenagem aos 180 anos de Indaiatuba
(comemorados em 9 de dezembro), cidade a 100 km da capital
paulistana, com seus recém-ultrapassados 200 mil habitantes.
A belíssima música, "Luar de Indaiatuba", é de autoria do
ilustre casal Nabor Pires de Camargo e Cleonice Mattioli de Camargo,
na voz do meu amigo Antonio da Cunha Penna.


Diálogo interior

"O entendimento humano é incapaz de apreender o verdadeiro ensinamento. Porém, quando tiverdes dúvidas e não entenderdes, conversarei convosco com todo o gosto”. (Yoka Daishi, Shodok)

Propaganda & Arte

Qualquer semelhança entre este anúncio, criado
pela agência Leo Burnett para o cliente Agência Estado,
e "Tentação de Santo Antonio", de Salvador Dali,
não terá sido mera coincidência.

Santo Antonio, por Salvador Dali

"A tentação de Santo Antonio", retratada por
Salvador Dali, em 1.946. Na verdade se trata do mesmo
Santo Antão - sobre quem postei anteriormente -, cujo nome
em latim é Antonius. Há diferença, porém, com o outro
Santo Antonio, o de Pádua, padroeiro dos noivos.

Dez minutos de vida

Na esteira do filme-mosaico, onde diferentes histórias paralelas se intercalam, recomendo hoje um outro formato muito comum nos cinemas: trata-se do chamado Anthology film, ou o filme-antologia, que compila várias pequenas histórias independentes em um mesmo longa-metragem, muitas vezes reunindo diferentes diretores.
É o caso de “Dez minutos de vida” (Ten minutes older, 2.002) em que, divididos em “O violoncelo” (The cello) e “O trompete” (The trumpet), 15 consagrados cineastas – entre eles Bernardo Bertolocci, Werner Herzog, Jean-Luc Godard, István Szabó, Win Wenders, Spike Lee, Jim Jarmusch... – apresentam, em 15 histórias de dez minutos, 15 concepções pessoais sobre o tempo. O filme-antologia variavelmente será agrupado ao redor de um tema específico. “Paris, eu te amo” (Paris, je t’aime, 2.006), por exemplo, reúne 21 histórias sobre diferentes bairros de Paris, filmados também por diferentes diretores, entre eles o conhecido Gérard Depardieu e o brasileiro Walter Salles.
Neste gênero, um dos mais bonitos que eu já vi foi “Sonhos” (Yume, 1.990), do célebre diretor japonês Akira Kurosawa que, em 8 belíssimas histórias, transpõe sonhos que teve, de fato, durante a vida. Entre eles está “Corvos”, em que um estudante ‘entra’ na tela “Ponte de Langlois” (foto), de Van Gogh (interpretado por ninguém menos do que Martin Scorcese), e caminha pelas pinturas coloridas do holandês até encontrá-lo, num descampado, onde conversam, ao som da 9ª Sinfonia de Beethoven. Uma verdadeira obra-prima.

Pinel

Extraído de
"O guia dos curiosos -
Português", de Marcelo Duarte


Como pinel se transformou em sinônimo de louco? Foi por causa do nome do hospital psiquiátrico Pinel, do Rio de Janeiro, dado em homenagem ao médico francês Phillippe Pinel (1.745-1.826) - foto ao lado -, um dos pioneiros da psiquiatria. Ele modernizou os métodos de tratamento dos doentes mentais.

Entendimento

"Até que o hoje vire amanhã, não saberemos dos benefícios do presente." (Provérbio chinês)