Diálogo

Poucas aptidões humanas são tão preciosas para a bem-aventurança da espécie como a arte de dialogar. Se a vida é mesmo uma escola em que todos somos aprendizes, o diálogo é um grande semeador da concórdia e, inadvertidamente, um poderoso desagregador.
Quando a afinidade entre as pessoas é grande, a troca de olhares dialoga sem palavras. Há diálogo no silêncio, nos gestos, nas atitudes, nas ruas, na natureza, pois o universo fala conosco. Deus fala conosco nas nossas orações, na nossa consciência, nas nossas virtudes. Nosso corpo fala conosco o tempo todo, nas emoções, nos sentimentos, nas dores, quando nos entregamos aos vícios, aos excessos, à desvirtude ou aos pecados capitais. A vida fala conosco quando insistimos no erro, quando perdemos o controle, quando não avaliamos o passado, não vivemos o presente ou não planejamos o futuro.
Como o ser humano é interativo, a falta de diálogo nos isola num mundo cinza e vazio. Quando deixamos de dizer o que sentimos e pensamos, alguma tristeza se processa no nosso interior como se não estivéssemos compartilhando da sorte do mundo. Quem evita o diálogo perde a chance de conhecer novas histórias, novos mundos; perde a chance de colorir o ambiente ao seu redor. A sensação de bem-estar que advém da interação com as pessoas, a solidariedade e a amizade são poderosos antídotos contra as contrariedades.
As manifestações de alegria, o sorriso e o entusiasmo, não são, pois, o nosso diálogo com o próximo, a nossa simpatia, as boas-vindas da nossa alma? As carrancas, pois, não são muros que erguemos à aproximação alheia, as portas que fechamos à presença de alguém?
O diálogo, mais do que a troca equilibrada de atenção e conhecimento, é a essência que interliga a humanidade, que perdura as tradições, que expressa o ensinamento. Ao diálogo se doa o mesmo carinho com que damos a passagem, que estendemos a mão ou que cedemos o nosso lugar. Ao diálogo cedemos o que temos de mais precioso: o dom de colocar o próximo em primeiro lugar.

Um comentário:

Ana Maria disse...

Que beleza este texto!
Dialogamos conosco e com outros, dormindo ou acordados, vivos ou mortos.
Dialogamos em frases, desenhos, expressões, olhares, gestos...
Como você disse muito bem: "Ao diálogo cedemos o que temos de mais precioso: o dom de colocar o próximo em primeiro lugar."

Obrigada pelo belo texto.

ANA MARIA MARUGGI