Os pequenos gestos

Os pequenos gestos são como os pingos: parecem tão insignificantes à primeira vista, mas se tornam poderosos quando são multiplicados. Podem manter a modéstia na pequenez e na grandeza, ainda que se tornem impetuosos sob más influências. São singelos e transparentes, mas se pintam de cores ou se turvam de negro conforme as intenções. Pingos de mentira ou sensatez podem encher os copos de tolos ou sábios na mesma proporção.
Os pequenos gestos são como os mananciais: brotam da inspiração divina, surgem do instante de beleza como as borboletas pousadas nos ramos e os raios de sol perpassado às folhagens, que equivalem por sua vez à doce troca de olhares, ao telefonema sem motivo, à simples lembrança, à breve visita, ao agrado sem pretensão.
Os pequenos gestos são como os rios: carregam vida por onde passam, sobrevivem à aridez e à frieza e enfrentam quaisquer obstáculos pois tem um destino a cumprir, mesmo contra tantas represas. Navegam de alto a baixo trilhando diferenças e nem por isso perdem tempo com disputas insanas.
Os pequenos gestos são como os chuviscos: refrescam com doçura, são serenos e não caem, repousam. São delicados tesouros que se renovam em ciclos e em diferentes estados da matéria, cada qual em seu tempo. Dançam sua graça na melodia da vida e não se retiram sem antes deixar marcas coloridas no horizonte das pessoas.
Os pequenos gestos são como os mares: purificam o corpo dilacerado e cheio de dores; refrigeram a alma despedaçada e cheia de angústia. Estão por toda parte embora nem todos os contemplem; talvez os apaixonados e os espirituosos, mais que os nervosos e os sem-tempo. Em essência são verdadeiras maravilhas e só se perde em seus domínios quem anda sem bússola.
Os pequenos gestos são como as ondas. São impulsos de beleza que se levantam mais forte e mais alto e que sobretudo espalham os desígnios divinos, os pequenos pingos de virtude que irrompem da fonte da vida à terra firme e que, de tão importantes, nunca podem acabar.

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