Tédio

Desalento. Apatia, fraqueza. Corpo pesado, preguiça, solidão. O tédio mora entre a falta de ação e a sonolência, em cuja ambiência vivem a aridez e a letargia, onde o céu está cinza, as ruas estão desertas e as árvores dos jardins – mesmo as floridas –, estão ressequidas e incolores. Na vizinhança se aglomeram medos e dissabores, a tristeza passa próxima ao abismo, o pensamento circula perdido e o vazio cresce à beira de bobagens.
O mais correto seria culpar o despropósito, ao redor de cujos tentáculos passeia a ociosidade. A falta de grandes objetivos na vida equivale à canoa sem remos: fica ali sem referência, balançando de lado para outro ao tempero das ondas que os outros deixam quando passam em seus navios, com os seus motores, com as suas bússolas e com os seus destinos traçados. E o fazem sorridentes, distintos, achegados, como se o entediado não compartilhasse da sorte do mundo.
O entediado vê borrões no arco-íris, lê garranchos nos bons livros e ouve chiado nas boas músicas. “Não é o tédio a doença do aborrecimento de nada ter que fazer, – escreve Fernando Pessoa – mas a doença maior de sentir que não vale a pena fazer nada.”
O perigo da não-ação pode advir dos excessos: em muitos casos, quem tem demais se preocupa de menos. Quem tem de menos se preocupa em sobreviver e sobreviventes não sentem tédio. Não sentem tédio os curiosos, os interessados, os expansivos, os que encontram tarefas por fazer. O perigo advém entre aqueles que não as enxergam ou não se dispõem a cumpri-las, o que às vezes sobrecarrega os demais. O perigo advém da indiferença, das parcas perguntas para tantas histórias, do pouco exame de consciência.
Entretanto, a vida floresce mesmo na aridez, como se sabe. Mesmo nos desertos encontramos uma sombra de benquerença, um oásis no caminho que deslinda uma nova perspectiva. Uma luz de incentivo, uma fé renovada, uma outra confiança, uma nova compreensão: a de que existe sempre alguma coisa acontecendo ao nosso redor esperando pela nossa prontidão.

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