Destino

A cena parece comum: alguém numa estrada diante de três caminhos a seguir. Não há placas ou indícios de que um ou outro seja melhor ou pior: são apenas caminhos.
Diante da chuva em Nova York, três táxis estacionam aos sinais de passageiros, entre os quais está a atriz novata, recém-saída de qualquer lugar onde fizera compras.
Em Osasco quatro amigas vão ao shopping center, distante da escola poucas quadras, perto o suficiente para um lanche na aula vaga. Duas delas vão à frente, pouco mais ligeiras; as duas outras vão em seguida, mais vagarosas porque um sinal vermelho segurou-as por um instante.
No guichê da companhia aérea o executivo esbraveja com a operadora cujo engano acabou por tira-lo do voo para uma reunião importante em Recife. Na vaga dele vai se sentar, pela primeira vez num avião, um pedreiro pernambucano em visita à família.
A atriz novata escolhe o mesmo táxi que o celebrado cineasta, que topa dividir a viagem com ela. Curiosamente o destino dos dois é quase o mesmo e a atriz é tão irreverente quanto bela aproveita a oportunidade para dizer que é boa no que faz, o que ele decide verificar. Desta corrida vai nascer uma das grandes estrelas de Hollywood.
As duas amigas ligeiras chegam primeiro ao shopping center – e à praça de alimentação –, e não sobrevivem à explosão em decorrência de um vazamento de gás, à qual escapam as outras duas. Sinais vermelhos, do que tantos reclamam, podem salvar vidas.
O executivo empalidece quando descobre que o avião que perdera por incompetência da ruiva com sardas cai sem deixar sobreviventes. Vai nascer de novo depois disso. Vai observar os sinais da vida e do trânsito como se eles dissessem por seus meios: ‘espere um instante’, ‘vá com segurança’ ou ‘não vá dessa vez’. Vai compreender o que os enfezados, os quadrados e os sistemáticos insistem em não ver, achando que controlar é o maior dos verbos humanos. Quem esbraveja pode não estar ouvindo a vida falar e pode, sem saber, estar insistindo em um lugar num voo condenado.

Um comentário:

Ana Maria disse...

Comentar seu texto não é fácil não. Vejo as cenas se entrelaçando como tecido da vida, e isso nos mostra a fragilidade dos momentos, os riscos guardados em nossas escolhas. Sinais. Sinais que fazem nosso dia seguinte, mas que em tantos momentos não lemos, não entendemos, e nos perdemos em nossos destinos.
Você entremeia tão bem esses fatos que parece que foi tão fácil fazer isso.
Gosto demais de tudo isso.
Parabéns cumpadi.