O convite e a pergunta

Já há algum tempo tenho observado o algo mais que existe entre as pessoas muito queridas ou entre aqueles em que vigoram enormes afinidades. Como há muito mais mistérios entre o Céu e a Terra – dizia Shakespeare – do que pressupõe nossa vã filosofia, vou me atrever a palavrear, apenas a olhos nus, sobre duas belas fragrâncias que recendem das relações humanas: as perguntas e os convites.
Poucas coisas no mundo são mais encantadoras do que a afinidade. Os desconhecidos se encontram nos gestos, nos olhares, nos símbolos, nas simples palavras em comum. Os conhecidos se frequentam, estão sempre juntos, mesmo quando não estão. Perto ou longe, são as perguntas que os mantém entrelaçados: Como você está? O que você tem feito? Quando vamos nos encontrar? Não me admira que os convites sejam também perguntas.
Sem os convites não há encontros; sem encontros não há perguntas; e sem perguntas prevalecem o silêncio e o vazio.
As perguntas são mágicas: abrem portas, janelas e corações. Aproximam, afastam; intimidam, mas enternecem; confundem, mas alumiam. Não à toa a humanidade tenha se desenvolvido ao redor das perguntas. As perguntas são dádivas, são cores; e às vezes são cinzas. E são tão mais constantes, tenho reparado, quanto maior é o interesse. Transbordam entre os apaixonados de primeira vista e os convites – sobretudo os aceitos –, são grandes sinais de que algo está dando certo. Ao contrário, nada mais triste que o casal escondido sob o som ambiente, em que a letra das músicas fala mais do que eles.
As perguntas e os convites são como a água e o vento: além de estarem por toda parte, mantém a vida acontecendo. Estão sobre as mesas, estão nas crianças, nos curiosos, nas caminhadas, nas viagens, nas igrejas. Parece que não, mas perguntas inocentes desvendam grandes mistérios. Fico surpreso ao constatar, às vezes, como tão singelas perguntas podem render tantas horas de conversa. É preciso, porém, estar sempre por perto. E depois; oras, uma simples pergunta não faz mal a ninguém!

5 comentários:

Anônimo disse...

Paulo, esse seu texto é realmente encantador e muito verdadeiro!!! Um dos mais lindos que eu já li !!
IDA

Alexandra Deitos disse...

E o que seria do silêncio se não houvesse pergunta? rsss

Adorei o texto!

E... Feliz 2011! :)

Poeta Eterno disse...

Pois é, mesmo sendo um apaixonado pelo saber e pelo conhecer, discordo um pouco sobre a importância das perguntas para o convivio social - adepto do budismo, ou dele mínimo conhecedor - valorizo um pouco a ausência de palavras, acho encantador que um casal consiga passar pelo vácuo sem abalar-se, conseguir passar um grande tempo ao lado de alguem sem que se precise dizer uma palavra, pode ser sinal de que as almas, transcendentalmente se tocam (estrepitosamente, até, como crianças brincando).
As palavras, ainda que um de nossos mais valorosos meios de comunicação, são, quase sempre, impotentes diante da grandiosidade.
Quando o sentimento é verdadeiramente grande, só fica em nós um sentimento de "boquiaberção" e, por não caber em nós, permanecemos vazios - e o vazio, oposto ao que pensamos nós traz liberdade, antes de tudo.
Além do mais, diria eu que o silêncio é memória.

Unknown disse...

Lindo! Lindo! Lindo! Parabéns Paulo!

Unknown disse...

Mas concordo também com o texto acima do Poeta Eterno. Acredito que as perguntas nos levam e nos convidam a muitas descobertas, porém o silêncio é preciso muitas vezes, e de grande valia. Acredito que a forma como iremos lidar com cada um é que importa...

bjs!