Quero o que?

Quero o que? O sol luminoso das manhãs, sob o qual minhas ideias se iluminam ou quero a doce garoa da tarde, que me flutua como um avião de papel? Quero o vento que varre o pó amontoado ou quero a brisa que sopra breve enquanto caminho na praia? Quero as ondas violentas rebentando nas pedras ou o suave vai-e-vem das marolas à beira-mar? Quero a areia fofa e quente do verão, para que os meus passos sejam ágeis e céleres, ou o chão alagadiço dos pântanos, para que o meu ritmo seja denso e vagaroso?
Quero chegar a tempo e ter uma vida pontual ou dar certo, mesmo que meu próprio compasso me atrase? Mais vale a minha inspiração ou a agenda que eu carrego? Quero o que? O dia apinhado de compromissos ou o dia livre para marchetear meu espírito? Vale mais banhar a alma de tempestade e bonança ou deita-la confortável na rede? Quero o sono dos justos ou a noite sobre as estrelas cadentes, onde nascem os meus pedidos? Quero o céu luminoso da lua ou obscuro do eclipse, sem o que a vida é um engodo?
Quero o que? O faz-de-conta da fantasia ou as notícias sangrentas dos jornais, sem as quais a concorrência me leva? Quero ser competitivo no mercado ou doar meus conhecimentos à humanidade, para que todos tenham o que eu tenho? Quero vender as minhas ideias, como bom comerciante, ou doá-las à rosa, como ela me doa o seu perfume? Quero, sobretudo, deixar que o meu Universo queira a minha querença por mim.

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