Um sermão

Há uma semana subi ao altar. Não como noivo, ainda que a solteirice me acompanhe, mas para apadrinhar o matrimônio de um primo que eu vi crescer. Ainda que me perguntem sobre a decoração, sobre a festa ou sobre os noivos, gosto de contar outra história.
A noite estava agradável, de uma garoa fina para abençoar; a igreja, num sagrado amadeirado, choveu pétalas de rosas, ressoou “Also sprach Zarathustra” por duas trombetas abandeiradas e consagrou num lirismo emocionante a presença da Ave Maria. De lá do alto, fugi das câmeras que filmavam meus olhos brilhando. Vi os figurinos impecáveis, os bancos enfileirados de rostos conhecidos sob um mágico coral que preenchia todo o ambiente com ajuda de violinos. Vi o sorriso dos noivos e a aura de reverência, incrustada na cerimônia como um brilhante no vestido da noiva.
Sob a fartura de comes e bebes, a recepção serviu alegria e confraternidade sobre as dezenas de mesas redondas. Em pé, as perguntas me abordavam tantas coisas, mas meu pensamento seguia a via oposta, levando-me à igreja vazia, sob a penumbra das velas, de volta às palavras do padre:
“Eu ofereço quatro pilares aos quais vocês poderão acrescentar outros: o perdão, o serviço, o diálogo e a fé. Vocês não são noivos perfeitos; nos momentos difíceis, sejam tolerantes, servidores, deem incentivo um ao projeto do outro, façam do diálogo a luz do entendimento. E, sobretudo, mantenham uma fé recíproca e inquebrantável.”
Ao sermão se agregaram a carta de Paulo aos coríntios e a parábola da construção sobre as rochas, que repercutiram demais em mim, particularmente por ser filho de um casamento de intactos 40 anos. Posso garantir que o diálogo derruba obstáculos e constrói caminhos como disse o padre ao noivo engenheiro e que o perdão restitui as feridas, como disse à noiva formada em Farmácia. Posso garantir pela convivência com pessoas que servir e perdoar são verbos insubstituíveis. Ainda que eu seja um simplório contador de histórias, sei que sem amor eu nada serei.

Um comentário:

Alexandra Deitos disse...

Não há perigo numa boa conversa.
É o que dizem.

Finalmente mudei o layout para melhor... Eu sempre piorava.