Pater Amabilis

O Dia dos Pais que se avizinha do sertão é azul e verde: azul como o céu de brigadeiro, verde como um tapete de palmeiras, tão fundidos e indissolutos na paisagem quanto na intrínseca e delicada essência através da qual se conjugam.
O céu tão claro é mais claro no horizonte, ao nascente, para cima de onde galgam seus matizes em escala até o zênite formoso e pintado de escuro, cravejado de luminâncias que mais são lições que a vida ensinou. O verde primeiro é semente escondida que brota sob a égide de um amor incondicional, regada a doses diárias de educação e atenção. Depois cria raízes e sobe sozinha, frondejando seu espaço e frutificando a sua história.
Pais e filhos são semeadores da terra de Deus cujas relações não se podem desprezar. Fazem parte da mesma fazenda, avivados por outras presenças não menos importantes. Na medida em que a mãe fertiliza e alimenta, o pai é quem apruma e fortalece. A mãe provê as flores, o perfume e o encanto, mas é o pai quem guarnece energia, pertinácia e firmeza.
Na fazenda os pais são os maiores e os mais fortes, que espantam o perigo dos pequenos e dos mais frágeis. Os pais são os cavalos selvagens na companhia dos pôneis no meio do pasto, são os cães de grande porte por cima de quem se aninham e passeiam alguns pintinhos, são os bois bravos que ladeiam e protegem os bezerrinhos desmamados.
Na humanidade os pais caçam para a prole e a defendem com a própria vida quaisquer perigos imediatos, ataques iminentes ou ameaças imaginárias. Pais espantam mal-olhados, mal-encarados e bichos-papões e sofrem a própria dor dos filhos sem deixar que eles percebam os seus medos, as suas dúvidas e os seus próprios questionamentos.
Na vida seguimos os passos dos nossos pais e aprendemos a olhar para eles de modo diferente em cada fase da nossa vida: ora mais deslumbrados, ora mais admirados, mais implicantes, mais questionadores ou mais reflexivos; mas me espelho no meu para dizer que são sempre companheiros. Para mim, pais serão sempre super-heróis.

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