Trilhas

Tantas novas histórias trago de volta na bagagem, há dias entre a terra batida e a vida matuta. Acercado de propósitos, segui tantas das trilhas picadas por quase centena e meia de alqueires, em passos lentos e contemplativos que a calmaria da fazenda me emprestou.
Minha vista se perdia a distância e com ela se foram os meus pensamentos, fugidios como um par de tucanos que me sobrevoaram ladeados. Vi as veredas que pareciam ser muitas, mas me enfiei por entre a cerca de arame que circundava uma represa, ao meio de onde se alevantavam uma dúzia de buritis, um dos quais ainda servia de morada a duas ararinhas filhotes que mais tarde um cineasta viria filmar. Tive de me achegar para acreditar que aquela água era mesmo tão cristalina.
Melhor que pisar um tapete vermelho foi percorrer as primaveras que florearam na estiagem; melhor que as cores da propaganda foi encontrar um brotinho de flor azul ao meio do capim seco. Melhor que os refrigerantes foram as mexericas apinhadas no pé, a água do coco apanhada com a escada e as verduras colhidas na horta. Melhor que a pressa é parar por um instante para admirar o que os olhos não veem sozinhos.
Era bem cedo quando me sentei aos pés das pás da roda d’água que, naquele remanso, trabalham incansáveis. Àquela hora só os ovos chocos descansavam sob a diligência dos ninhos. Ainda há pouco estivera com os bezerros dividindo o leite quente no curral; ainda há pouco havia sereno nas folhas e ainda há pouco o galo amiudara no poleiro. Ainda há pouco seguiria outros caminhos, mas aonde fosse encontraria a mesma paz. Ainda que as cobras e as onças se avizinhassem e que os borrachudos, os picões e os espinhos me acossassem, o sol a pino e a lua posta alteavam mais graça que perigo. Ainda que no escuro montasse os cavalos do pasto, sem luz e sem rumo chegaria ao meu destino pelos desígnios da roça. Assim, muitas das minhas respostas se advieram quando entendi que para chegar às vezes não basta conhecer o caminho: é preciso ter um pouco de paz.

Um comentário:

Ana Paula Amaral Minato disse...

Lindo Demais!!
A Paz não tem preço!!