Comer, rezar, amar

Em meio à contramão, preciso antes dizer que ainda não assisti ao novo filme de Ryan Murphy, “Comer, rezar, amar”, lançado em outubro nos cinemas, baseado no livro autobiográfico de Elizabeth Gilbert, cujo enredo eu também – criteriosamente – não conheço.
Tive o cuidado de me manter alheio à história para escrever sobre o seu título, que eu considero um dos mais sugestivos dos últimos tempos, a exemplo de “Amar, verbo intransitivo”, criado por Mário de Andrade em 1.927.
Escrevo por familiaridade aos títulos, que a propaganda me ensinou a compreender melhor. “Os títulos – disse o publicitário inglês David Ogilvy – são praticamente 80% do anúncio.”
Na literatura e no cinema os bons títulos podem representar mais do que a imagem marcante, mais do que as palavras bonitas. Talvez representem mais do que a própria mensagem por que, mais que encabeçar, os títulos significam. E mais que significar, eles arrebanham: imagens, palavras e mensagens não funcionam sozinhas.
Por essa razão temos um nome, que se torna eterno não por si mesmo, mas pela sequência dos bons gestos que realizamos, dos bons termos que dizemos ou pelos exemplos que deixamos.
Escrevo por que o novo título me fez refletir e escritores, antes observadores, encontram histórias em brancas nuvens, em livros que nunca leram e em filmes que não viram.
Em comum com a cinebiografia e com o best-seller empreendo apenas três verbos, talvez destes os mais humanos. Comer, rezar e amar me inspiram equilíbrio, como se a oração e a benevolência reverberassem respeito e o absorver não fosse esganado, mas nutritivo.
Não sei o que Julia Roberts protagoniza, mas imagino que tenha mais propriedade que os glutões, os fanáticos religiosos e os malqueridos.
Comer, rezar e amar se movem em direções diferentes – de fora para dentro, de baixo para cima e de dentro para fora –, mas chegam ao mesmo destino: alimentam o corpo e a alma, pela experiência, pela contemplação e pela solicitude. E, como na literatura e no cinema, não funcionam sozinhos.

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