Poesia, doce poesia

Poesia, doce poesia. Valsa de cores, som e beleza. Doce sonata de pingos finos de chuva na manhã com sol, que mais brincam de cair, do que caem. Poesia. Doce punhado de azul celeste, que se acinzenta quando sou eu quem te pinta de triste. Pois tu és triste, ó estrofe, mas não disseste a todos, só a mim. Doce corte no peito que me põe retirado, eu e as minhas mágoas, feito linha e agulha, feito mulher cerzideira, que junta dor e ternura na mesma laçada. Mas doce é o que me provocas, o sentido que me reverberas como um eco de imagens que se desterram das cavernas. Tu me provocas, mas te rimo de novo por reflexivo que me fazes, suas radiantes pinceladas nas campinas, seus sombrios pendores nas depressões. Tu me provocas e me afasto de novo, como se o resto do mundo fosse também poesia: minhas raivas me esquentam, mas prefiro dizer que é culpa do sol a pino; minhas tristezas me cortam, mas os poetas tem mesmo as suas almas à mostra. Tu me provocas, mas te insisto mesmo assim, com meus escrúpulos ou na falta deles, pois tu és móvel como a imagem de Narciso à beira do lago, a quem eu me inspiro para te decifrar: a tua beleza é só minha. Faz-me em pedaços, eu permito; faz-me mosaico com as tuas formas, soma-me ao estribilho passado, combina-me ao verso todo, revira-me de um sentido que, mesmo que eu queira, inexiste.

Nenhum comentário: